A onda de gratidão que invadiu nosso cotidiano especialmente nas redes sociais e, com isso, deu origem a pelo menos três grupos de
- O primeiro formado por pessoas que aderiram à “onda”.
- O segundo pelas que começaram a repudiar o termo devido sua “banalização”.
- E o terceiro por quem simplesmente não se deu conta de nenhum dos movimentos supracitados.
Com qual grupo você se identifica?
Há algum tempo a expressão desse sentimento está nos rondando de maneira mais recorrente. Caso ainda tenha pagado um “rancinho” em relação à prática da gratidão ou se ainda não aderiu à “onda”, nesta conversa quero mostrar por que você deveria aderir e criar esse estado emocional de forma intencional na sua vida.
O que é, por que praticar e como se reproduz?
De acordo com o dicionário Priberam, gratidão pode ser definida como o “sentimento de lembrança e agradecimento por um bem recebido, em relação ao autor”. Ou seja, seria o ato de reconhecer o bem feito por outra pessoa.
Mas ela não se limita a isso.
No TED Talk “Want to be happy? Be grateful” (Quer ser feliz? Seja grato), o monge David Steindl-Rast chama atenção para a maneira como lidamos com os acontecimentos e, de modo mais abrangente, para nossa postura em relação à vida.

O monge explica que a gratidão ocorre tanto quando reconhecemos o bem recebido, quanto na percepção de aspectos singelos que compõem o nosso dia a dia, como acordar pela manhã e estar vivo.
Essa postura é um dos motivos que pode coloca em vantagem nos índices de felicidade, pessoas que vivem em situação de miséria em relação às que têm abundância de bens materiais.
Não são as pessoas felizes que são gratas. As pessoas gratas que são felizes. (David Steindl-Rast).
Quem tem pouco, e é grato pelo “pouco” que tem pode sentir mais satisfação com a vida do que uma pessoa que tem muito, mas nunca é grato pelo que tem. Isso quer dizer que não importa quanto você tem. Sim, o quanto você vivencia o sentimento de gratidão indiferentemente do que possui.
Gratidão promove o bem-estar
Estudos realizados por pesquisadores no campo da Psicologia Positiva contribuíram para o aumento da conversa em torno da gratidão.
No anseio de descobrir como a mentalidade grata nos afeta, os pesquisadores Robert A. Emmons e Michael E. McCullough realizaram um estudo, no qual pediram para três grupos de pessoas escreverem algumas frases durante dez semanas.
Um grupo escreveu sobre o que estavam gratos, outro sobre irritações diárias ou acontecimentos que os desagradaram, e o último registrou eventos que os afetaram – sem a orientação de enfatizarem aspectos positivos ou negativos.
Após as dez semanas foi verificado que as pessoas que escreveram sobre gratidão estavam mais otimistas e sentiram-se melhores sobre suas vidas.
Elas também se exercitaram mais e realizaram menos visitas ao médico do que as pessoas que se concentraram em aspectos negativos.
De modo geral, o resultado deste estudo sugere que a gratidão é um estado mental a ser cultivado. Considerado que ela pode influenciar positivamente nosso nível de satisfação com a vida.
Uma atitude grata nos ajuda a reconhecer o que experienciamos de bom no presente.
Isso aumenta nossa sensação de contentamento, nos torna menos pessimistas em relação ao passado e ansiosos pelo que ainda desejamos conquistar.
Em resumo, a gratidão pode favorecer nosso bem-estar emocional e, ainda, melhora a qualidade das nossas relações interpessoais. Pois a valorização das atitudes das pessoas com as quais convivemos nos permite enxergar o melhor nos outros. Lançando luz sobre as qualidades em vez dos defeitos.
Como desenvolver gratidão?
No livro Felicidade autêntica: Usando a psicologia positiva para a realização permanente, o Martin Seligman apresenta o exercício da Carta de gratidão. Para colocarmos a mão na massa aqui e agora, compartilho com você essa prática e maneiras alternativas para você exercitar e fortalecer esse estado mental e sentimento.
Escreva uma carta de gratidão
Essa técnica consiste em escrever uma carta sincera para alguém que teve um impacto positivo em sua vida, mas que nunca recebeu o devido reconhecimento. Pense em alguém que teve um impacto significativo na sua vida e que você nunca agradeceu adequadamente. Pode ser um professor, mentor, amigo, parente, colega de trabalho, etc. Escreva sobre um momento ou experiência específica em que essa pessoa fez a diferença para você. Explique como as ações dela influenciaram sua vida de maneira positiva. Inclusive como as ações dessa pessoa continuam a influenciar sua vida hoje.
Seligman sugere que a carta seja entregue pessoalmente sempre que possível. O ideal é ler a carta em voz alta para a pessoa. Isso cria um momento de conexão mais profundo. E observar as reações pois o impacto emocional costuma ser forte para ambas as partes.
Se não for possível presencialmente, você pode enviar a carta por e-mail ou correio, mas, se puder, uma videochamada para ler a carta mantém parte da experiência.
Agradeça alguém mentalmente
Caso tenha dificuldade de verbalizar seu sentimento, mentalize e direcione o agradecimento à pessoa que manifestou a ação positiva.
Liste os acontecimentos pelos quais é grata
Estabeleça uma meta pessoal de listar, por exemplo, sete coisas pelas quais é grato no dia ou na semana. Você pode fazer isso durante sua rotina ou à noite antes de deitar-se.
Mantenha um diário ou blog pessoal
Se você tem habilidade ou deseja desenvolver a escrita, mantenha um diário ou blog pessoal para escrever de forma regular sobre os aspectos do dia a dia que a torna mais grata.
Crie um pote de gratidão
Você pode fazer seu próprio pote da gratidão. Para isso, basta higienizar um vidro ou outro recipiente de sua preferência. Personalize o pote com stickers, fitas adesivas decorativas, etc . O mais importante não é a cara que você dará ao pote, mas o compromisso de registrar os momentos pelos quais é grato e depositar nele.
Contemple o presente
Aprecie acontecimentos no momento presente e agradeça. Quando você está presente na vida consegue sentir gratidão por acontecimentos na rotina conforme eles acontecem. Sente gratidão ao se deparar com uma paisagem bonita, ao sentir a brisa ou o calor do sol na pele.
Eu gosto muito da sensação reconfortante de deitar sobre roupa de cama limpa, pisar descalço no tapetinho felpudo que fica ao lado da cama e sentir o aroma de café fresco pela manhã. Sinto gratidão genuína quando sinto essas sensações aconchegantes no meu dia a dia.
Para tornar-se mais grata não é preciso postar mensagens nas suas redes sociais. Nem sair por aí abraçando árvores e agradecendo ao universo pelas belezas da natureza – o que recomendo fortemente, pois mal não faz rs
Pratique de modo privado. Agradeça às pessoas mais próximas, com as quais se sente confortável, crie listas ou simplesmente mentalize seu agradecimento.
Não faltam alternativas.
E para além da prática pontual, caso não saiba, é possível viver em gratidão
Como viver em gratidão?
O monge David Steindl-Rast considera que viver em gratidão não significa ser grato por tudo. Certamente não, devido às muitas mazelas que nos cercam como violência, guerras, perda de um ente querido etc.
Viver em gratidão significa que podemos ser gratos por cada momento de vida que nos é concedido e, diante dos desafios, identificar que há sempre uma oportunidade de aprendizado e crescimento.
Por exemplo, diante de um desafio temos a oportunidade de desenvolver paciência, defender as nossas ideias etc… E se não aproveitamos essa oportunidade, a vida sempre dá um jeito de nos oferecer outra.
Para viver em gratidão, Steindl-Rast diz que o método é simples: “Pare. Olhe. Siga”.
Em vez de passar pela vida na correria, esteja presente em cada experiência. Ao parar você consegue observar, sentir sensações através da visão, tato, olfato, paladar, audição.
A conexão real com a experiência também abre o nosso coração para as oportunidades que a vida nos apresenta momento a momento. Abrir-se para as oportunidades nos permite adotar o último passo que consiste em agir.
Em alguns momentos essa “ação” que representa o movimento de Seguir, consiste em aproveitar algo prazeroso no momento ou em aprender com algum desafio. “Pare. Olhe. Siga”.
Você pode se tornar mais feliz ao se tornar uma pessoa mais grata.
Se ainda acredita que essa história de gratidão não é para você, indico que assista a playlist de Ted Talks Give Thanks (Dê graças). Essas conversas vão ampliar ainda mais a sua consciência em relação à importância de se tornar uma pessoa grata e ajudarão você a cultivar enormes quantidades de gratidão.
Para começar a exercitar o que leu por aqui, conta pra mim: pelo que você é grato hoje? Utiliza alguma prática ou técnica para desenvolver gratidão diferente das apresentadas?