Bem-estar de forma prática para você estar mais bem consigo.

Sobre o vazio sentido por Anitta: O que realmente faz uma pessoa feliz?

Imagine conquistar tudo o que você desejou. Dar check em todos os itens da sua lista de objetivos e, em vez de sentir felicidade, sentir-se vazia?

Decidi assistir Larissa: O outro lado de Anitta (2025) após ver o corte de um trecho do documentário em que ela falava sobre felicidade.

Não sei se o vazio que Anitta sentiu foi semelhante à sensação que senti ao final do meu mestrado. Eu havia dado check nos meus objetivos profissionais e acadêmicos até ali, mas “sentia que faltava algo”.

Embora em dimensões completamente diferentes, assim como Anitta, para dar check naquele item da minha lista de objetivos, também havia escalado uma montanha bastante alta, feito inúmeros sacrifícios e superado diversos desafios ainda super jovem… Ou seja, eu realmente “deveria estar muito feliz ”.

Esse é o xis da questão. É muito estranho vivenciar a sensação de que “você deveria estar feliz, mas não estar se sentindo assim”.

Nesta conversa quero compartilhar com você algumas reflexões e a minha percepção sobre o que está por trás desse vazio existencial que você também pode experimentar em algum momento na sua vida, a diferença entre autoestima e self-worth (muito confundidas) e como vivenciar a verdadeira felicidade ao longo da sua jornada.

Você ainda acredita que vai ser feliz quando conquistar algo?

Quem ainda não começou a expandir o seu estado de consciência. Que consiste em ampliar a percepção que temos de nós mesmos, dos outros e do mundo ao nosso redor, tende a passar pela vida “correndo atrás dos seus objetivos” ou de experiências fugazes, que geram a sensação pontual de alegria, acreditando que isso é felicidade genuína.

Por essa razão, estão sempre em busca do próximo check na lista. Estão correndo como um hamster na rodinha sem nunca chegar (ou melhor, acessar) à verdadeira sensação de felicidade.

Algumas pessoas como eu, podem ter sorte. Sim, sorte. A sorte de dar os primeiros checks na sua lista e, logo, receber e atender uma espécie de chamado da vida e, com isso, perceber que conquistas externas não são sinônimo, nem garantia de felicidade.

Outras pessoas podem precisar de mais tempo… talvez uma vida inteirinha. Ou mais de uma vida (se você acredita) para receber ou escutar esse chamado.

Conquistas externas e dinheiro podem sim contribuir para aumentar o conforto e proporcionar mais experiências que gram alegria. Mas quando Anitta diz que “a gente só é genuinamente feliz se mesmo que a gente perder tudo isso continue feliz”, ela está certíssima. Felicidade condicionada a algo não é felicidade; sim, alegria.

Autoestima x Autovalor

No trecho do documentário no início desta conversa, Anitta diz: “Você tem que ter um vazio muito grande para nem pensar em você só querer mais, mais, mais atenção….mais, mais, mais atenção. E eu acho que esse vazio meu era muito grande. Não importava o sucesso que eu fizesse. Nada preenchia esse vazio. Porque o vazio está dentro, não está fora, e a gente fica querendo preencher o vazio com coisa que está fora. E aí, se amanhã eu perder tudo isso: eu ainda vou ser feliz?… Eu fiz esse filme para dizer para as pessoas que você não precisa ser rico e ser famoso para ser especial.”

Em uma cena no documentário, anterior a esse corte, Anitta diz que acreditava que se não “fizesse algo” as pessoas não teriam motivo para olharem para ela. Ela precisava fazer para “merecer” ser “notada”, ser “vista”, ter “valor” para o outro.

De onde surgiu essa crença de Anitta?

1 – Pode ter surgido de experiências na infância. Em vez de a criança ser afirmada pelos adultos quando expressa o seu eu autêntico, recebe essa “validação” quando desempenha algum papel. Ao ser afirmada pela beleza, inteligência, força, capacidade de agradar etc, a criança para a acreditar que o seu valor está condicionado a essa característica e que é amada quando desempenha esse papel.

2 – A crença de que apenas temos valor ao ter ou fazer algo, também pode ter origem e/ou ser reforçada pelas relações sociais que vamos construindo ao longo da vida e pela pressão social. Fama e fortuna realmente são pré-requisitos para que determinadas pessoas tratem outras pessoas com respeito ou não. Quem ainda não começou a expandir a sua consciência de fato acredita que o seu próprio valor e o valor dos outros está exclusivamente no que tem e faz. Vão considerar uma pessoa relevante e dignas, de acordo com a conta bancária, roupas, popularidade etc. Aqui não estamos falando de valor no sentido de um empregador contratar um colaborador.

No trabalho o nosso valor está atrelado à quanto geramos de valor para um empregador ou cliente. Se você deixa de entregar os resultados pelo que foi contratado ou fica doente, você deixa de ter valor para o mercado.

Mas já percebeu que mesmo doente você não deixa de ter valor para a sua família, amigos e pessoas que realmente gostam de você? Na realidade, é exatamente no momento de adversidade que eles mais se mostram presentes. Você tem valor para eles mesmo sem ter valor comercial para o mundo.

Ou seja, não precisamos fazer ou ter algo para conquistar a sensação de valor (self-worth) como ser humano. Ou ser valorizado como ser humano. E é exatamente aqui que entra a diferença entre autoestima e self-worth. Conceitos que podem ser confundifos pelo senso comum.

A nossa autoestima oscila. Quando deixamos de cumprir a nossa lista de tarefas, perdemos um emprego ou acordamos em um bad hair day, a nossa autoestima pode ficar mais baixa. Afinal, você não vai se sentir com a autoestima super elevada logo após perder um trabalho e ao constatar que não cumpriu nada do que se comprometeu.

Com isso, sim. É natural nos sentirmos menos admiráveis e os outros também podem nos “avaliar” como menos admiráveis diante disso. Nesses dias em que estamos com a autoestima mais abalada precisamos praticar autocompaixão. Mas nos aprofundamos nesse assunto em outra conversa.

Voltando ao tópico central, já no dia em que concluímos as nossas atividades, conquistamos um prêmio no trabalho e acordamos com o cabelo naturalmente belo ou fazemos um penteado que gostamos, podemos nos sentir mais admiráveis e receber mais admiração externa. Logo, a nossa autoestima se eleva.

Diferente da autoestima, o nosso valor como ser humano não muda mesmo diante de falhas, perdas ou um bad hair day. Continuamos sendo dignos de respeito, amor e compaixão. Todo ser humano tem valor apenas por existir. Assim como um bebê recém nascido é digno de respeito, amor e compaixão.

Dito isso, a crença de precisar desempenhar um papel para se conectar às pessoas e busca por aprovação vivenciada por Anitta, podem ser um sintoma da falta de um real senso de autovalor.

Ficou claro para você a diferença entre autoestima e autovalor? Percebeu como é natural a autoestima oscilar? Mas autovalor (self-worth) não?

O colapso: Você também negligencia o seu bem-estar “em prol” dos seus objetivos?

Quando chegamos a 1h de documentário, a Anitta fala sobre o quanto é desgastante se apresentar todos os dias em diferentes países. Diz: “Três shows seguidos em diferentes países. Eu estou morrendo. Eu quero chorar. Eu quero… eu quero morrer.”

Em seguida, o diretor do filme narra que Anitta comentou com ele que ela estava lendo o livro de Carmem Miranda, que também trabalhava sem parar e o corpo não aguentou.

E aí, entram imagens de Anitta desabafando sobre a falta de controle da mudança de personalidade. Diz que não aguenta mais não ter mais controle sobre quando Larissa (seu eu autêntico) se torna a Anitta (a personagem que faz o que ela acredita que os outros esperam dela).

Diante disso, o produtor Felipe Britto diz que “esse é o preço que ela precisa pagar” para conquistar tudo o que conquistou… Anitta emenda dizendo que não quer mais sustentar essa forma de viver. Que é impossível ela continuar entregando tanto de si… e solta um: “Eu não aguento mais”.

Essa frase: “Eu não aguento mais” é muito característica de uma pessoa em estado de burnout. Uma fala que está na ponta da língua de quem chegou ao seu limite.

Não sei se aos 24 anos eu tive uma espécie de esgotamento não diagnosticado e se a Anitta chegou a receber um diagnóstico oficial de burnout. A realidade é que negligenciar a adoção de comportamentos que nutrem necessidades básicas por um longo período de tempo é a receita perfeita para cultivar a exaustāo que pode nos levar ao esgotamento.

No meu caso, dos 15 aos 24 eu estava vivendo em um estado de inconsciência, no piloto automático, com zero autoconhecimento, desconectada de mim mesma, negligenciando as minhas necessidades emocionais, físicas, espirituais e sociais, totalmente focada em conquistar os meus objetivos… O que não percebemos é que nessa busca pelos nossos objetivos negligenciamos exatamente o que tem real potencial de nos tornar realmente felizes

Após a cena com o produtor, Anitta vai escalar as montanhas. Mas se permite desistir antes de chegar no topo. Segunda ela, na trilha estava se sentindo cansada e doente como na carreira. Anitta não desistiria. Afinal, isso é o que as pessoas esperam dela. A Anitta não desiste nunca, esgota-se até a última gota.

Mas a “nova” Anitta se permite desistir. “Qual o problema de desistir? Qual o problema de mudar de ideia?” – Ela questiona. Caso continuasse subindo seria apenas para atender as expectativas da equipe que ela não queria desapontar. Mas a vontade de desistir falou mais alto do que a de chegar no topo.

E aí, ela se questiona: “Será que ir até a metade do caminho não havia gerado o melhor dos dois mundos… captar algumas imagens e ficar quietinha? Ok, tudo bem que não chegaria ao topo. Mas será que os efeitos colaterais de chegar ao topo valem a pena?”. Aqui ela diz refletir sobre toda a sua vida e carreira. Ou seja, sobre o preço de chegar ao topo e se manter lá.

Após a trilha, Anitta vai para um retiro de 5 dias para “restaurar o equilíbrio longe da agitação do dia a dia”. A mãe da Anitta revela que com o passar dos anos, a filha está deixando o personagem de lado e sendo mais ela mesma: mais autêntica.

Daí em diante também aparecem cenas e falas sobre a conexão de Larissa com práticas holísticas como constelação familiar, ativação da energia kundalini, prática de yoga, a necessidade de ter tempo de recuperação para conseguir ter força e permanecer subindo ao palco como Anitta.

Já encaminhando para o encerramento do documentário, aparece o trecho do vídeo que abriu a nossa conversa neste conteúdo.

Felicidade genuína é um estado interno de bem-estar

Além de tudo o que conversamos aqui, o documentário da Anitta também pode ser uma fonte rica de inspiração para conversarmos sobre outras pautas como:

  • a necessidade de criar um personagem para entregar o que os outros esperam ou se tornar mais atraente e, assim, conquistar mais atenção e fama;
  • sobre a pressão social para se manter no topo (sempre conquistando mais visibilidade e mais dinheiro);
  • o impacto da fama (visibilidade social) em relacionamentos amorosos;
  • a perda da privacidade e independência – no sentido de ir e vir sem ser assediada ou dar satisfações sobre a própria vida… Mas por ora vamos nos ater aos tópicos que exploramos até aqui.

Caso não saiba, em resumo, na filosofia, a verdadeira felicidade é vivenciada através do cultivo do bem-estar integral e das virtudes humanas. De certa maneira, consiste em adotar comportamentos para nutrir as nossas necessidades básicas físicas, emocionais, mentais, espirituais e sociais, ampliar o nosso autoconhecimento, desenvolver e expressar virtudes humanas por meio do nosso comportamento ao longo da jornada. Felicidade tem mais a ver com fazer o nosso trabalho interno e nos tornamos pessoas… seres humanos melhores na nossa existência.

Ou seja, se você fizer esse trabalho interno, você está mais próximo de vivenciar felicidade genuína. A ironia é que, muitas vezes, em nome dos nossos “objetivos” negligenciamos a nós mesmos. Ficamos obcecados olhando para fora, nos desconectamos e atropelamos as nossas necessidades mais básicas. E, sem autoconhecimento ou autorreflexão seguimos vivendo o dia a dia, em ritmo frenético, no modo piloto automático.

As pessoas que eu conheço que aparentemente conquistaram todos os itens da sua lista de objetivos e não vivenciaram alguma espécie de esgotamento, nem esse tipo de crise existencial aparentemente não negligenciaram completamente comportamentos que contribuem com o bem-estar integral, por exemplo mantiveram laços fortes e saudáveis com a família e/ou amigos, cuidavam da alimentação, se exercitavam ou cultivavam uma vida espiritual, expandiram o seu autoconhecimento, expressaram e desenvolveram virtudes ao longo da jornada…

Com base na reflexão que fizemos ao longo dessa conversa, convido você a se perceber. Em meio às inúmeras tarefas para conquistar os seus objetivos, você também tem priorizado adotar comportamentos que realmente tem potencial de promover o seu bem-estar e a felicidade genuína?

Caso não, sugiro começar a fazer isso. Pois do contrário ocorre o risco de você concluir a sua lista de objetivos e apenas encontrar um vazio quando chegar lá.

Bjo. Aline

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