Falo que sai da casa dos meus pais aos 16 anos porque no ano seguinte iniciei uma jornada tripla de trabalho e estudo.
Passava o dia todo no trabalho. Ao final do dia, dava um “pulo” em casa para me trocar e ir para a escola à noite.
Após me formar, essa jornada continuou na graduação, somada a cursos e atividades complementares aos fins de semana.
Seis meses após a formatura da graduação, mudei de estado para fazer o mestrado. Com a conclusão do mestrado continuei mudando de estado/cidade para aproveitar oportunidades profissionais.
Isso se manteve até 2020.
Só-só: vulgo aquele que apenas trabalha e estuda
No final de 2019, após um período conciliando as responsabilidades como professora universitária e capacitações na área de bem-estar, decidi começar a prestar serviços pela Pessoa Melhor.
Junto com a decisão veio a pandemia. Me estabeleci na minha cidade de origem e, com isso, voltei a conviver com a minha família.
Estava há 14 anos sem conviver com os meus familiares. De 2020 pra cá, alguns domingos almoço na casa dos meus pais na companhia de pessoas da família…
Embora a minha linguagem do amor principal seja tempo de qualidade, até os 24 anos (quando conclui o mestrado), negligenciava o tempo de qualidade com os meus familiares.
Quantas vezes durante festas de família eu não participava porque estava trabalhando ou estudando?
Ou mesmo de corpo presente, estava emocionalmente indisponível pensando/resolvendo questões de trabalho/estudo?
Diversas.
Dos 17 anos em diante eu havia entrado no piloto automático e vivia como uma “só-só”. A pessoa que, diferente da geração nem-nem (nem trabalha, nem estuda), só trabalha e só estuda.
Ou seja, não tem vida além do trabalho e dos estudos.
Dentre os rótulos que recebemos, era a filha estudiosa, inteligente e dedicada. Brinco que nasci uma senhora no sentido pejorativo e fui rejuvenescendo após participar da minha primeira imersão em meditação. Passei a cultivar a Aline de forma integral e fui ficando mais leve…
Do piloto automático ao bem-estar integral
Hoje, sei que essa negligência ocorreu por conta das prioridades na época, mas especialmente por padrão de personalidade, imaturidade natural da idade, falta de autoconhecimento e conhecimento sobre comportamentos e hábitos que nutrem o nosso bem-estar.
Após a minha primeira imersão em meditação, aos 24 anos, comecei a sair desse modo “piloto automático”, pelo qual podemos passar pela vida.
Comecei a estar mais presente e adotar práticas de bem-estar integral. Com isso, o tempo de qualidade com os meus familiares também se tornou uma prioridade na agenda.
Mesmo distante me organizava para falar com os meus pais de forma recorrente e para participar de atividades importantes em família.
Hoje, continuo me organizando para conseguir participar dos almoços quando ocorrem ou de alguma atividade em datas importantes.
Nem sempre é possível, mas estou fora do piloto automático e existe um esforço intencional da minha parte de tornar isso prioridade.
Não é sobre escolher, sim integrar e viver de forma mais plena
Meus pais já são idosos. Adultos passamos a valorizar ainda mais o tempo finito das pessoas importantes para nós. Fato é que nós nunca teremos tempo.
É preciso criar tempo para o que é importante.
Nutrir o nosso bem-estar não é sobre escolher entre as nossas responsabilidades profissionais, cuidar de si ou cultivar a qualidade da relação com os outros.
É sobre deixar de ter uma vida limitada. É possível viver uma vida mais plena e que nos preenche de forma inteira.
Como disse, a vida é finita. Vale a pena buscar viver uma vida bem vivida.
Para isso, podemos recorrer ao autoconhecimento para sair do piloto automático e boas práticas de bem-estar que nos permitem, por exemplo, integrar as áreas centrais da nossa vida.
Será que no piloto automático você tem vivido como um só-só?