Este artigo foi publicado originalmente em 2019, no blog e newsletter da Pessoa Melhor.
Problemas relacionados à saúde mental e emocional parecem cada vez mais comuns. Não raro surge alguma notícia sobre pessoas que conquistaram fama e fortuna, que revelam enfrentar tais desafios.
Em uma publicação no Twitter, em 2019, Whindersson Nunes revelou se sentir triste apesar de todas as suas conquistas.

Agora, em 2025, devido à recente internação voluntária do humorista, volto a compartilhar com você um artigo que escrevi em 2019.
Em um primeiro momento talvez você resista a empatizar com pessoas como Whindersson, afinal, elas “Têm tudo”, “Alcançaram o sucesso, logo estão reclamando de quê?”, “Quem sofre mesmo é quem não tem o que comer”.
Forte, certo?
Mas esses discursos são recorrentes na internet.
Contudo, a realidade é que o sofrimento de uma pessoa não anula o da outra. A fome de alguém não exclui a tristeza sentida por quem tem uma mesa farta.
E mais, saúde mental e emocional não é um desafio apenas de celebridades, é de todos nós… seres humanos.
A pirâmide de Maslow: Fama e fortuna e suprir as necessidades básicas não garante felicidade
Talvez você já ouviu falar sobre a pirâmide de Maslow, que elenca as necessidades humanas como de origem 1) fisiológica, 2) segurança, 3) afeto, 4) estima e 5) autorrealização.
A pirâmide funciona como uma escala. Dessa forma, ao suprir a necessidade mais básica (1) buscamos a seguinte na hierarquia (2), e assim por diante.
Embora uma pessoa tenha (1) comida e (2) abrigo, por exemplo, isso não significa que ela esteja plenamente satisfeita com a vida. Os três últimos itens da pirâmide (afeto, estima e autorrealização) são menos práticos e objetivos, como nossas necessidades fisiológicas e de segurança.
Necessidades que estão intimamente relacionadas à nossa saúde mental e emocional. Ou seja, ter as suas necessidades básicas garantidas não garante felicidade, nem elimina todos os problemas da nossa vida. Apenas os básicos. O que é bastante, sabemos disso.
Como mencionei, apesar de cada vez mais comuns, nem sempre refletimos de forma significativa sobre problemas de saúde mental e emocional. Muito menos nos engajamos em ações práticas para evitar vivenciá-los. Inclusive, no dia a dia, ignoramos as “mensagens” do nosso corpo que nos alertam de que algo está errado.
Esse cenário ainda é mais agravado porque o senso comum também nos vende a ideia de que nos sentiremos bem, felizes e completamente realizados quando conquistarmos objetivos extrínsecos como a carreira x ou um negócio lucrativo, o amor da nossa vida, filhos, viagens, bolsas, sapatos, roupas, casa, apartamento ou carro dos sonhos.
Diante disso, tendemos a viver de forma automática, cumprindo tarefas cotidianas e dedicados a conquistar nossos objetivos. Ingênuos, ignorantes sobre o fato de que apenas objetivos extrínsecos não geram felicidade genuína ou apenas negligentes, não nos damos conta de que na realidade promover o nosso bem-estar deveria ser prioridade.
Isso é o que realmente permite que a gente seja feliz na jornada de construção dos nossos objetivos, cria condições propícias para cumprirmos as tarefas do dia a dia de forma produtiva e sustentável no longo prazo, e nos permite estar bem – de verdade, quando alcançarmos tais objetivos. Permite estarmos bem para, inclusive, aproveitá-los.
Não sei qual a sua concepção de “sucesso”, mas a minha concepção de vida bem vivida com certeza inclui bem-estar integral. Uma concepção cada vez mais validada pelos resultados de pesquisa no campo da Psicologia Positiva. Por isso, nesta conversa compartilho com você práticas essenciais para promover o seu bem-estar.
Antes, deixa eu esclarecer: O que é saúde mental?
Saúde mental é um estado de equilíbrio psicológico, emocional e social que permite ao indivíduo lidar com os desafios da vida, desenvolver seu potencial, trabalhar produtivamente e contribuir para a comunidade.
Ela não se resume à ausência de transtornos mentais, mas envolve a capacidade de administrar emoções, adotar rotinas de autocuidado integral, manter relacionamentos saudáveis e tomar decisões assertivas. Uma boa saúde mental proporciona bem-estar, resiliência e a habilidade de enfrentar adversidades de maneira equilibrada.
Fatores como pressões sociais, estresse excessivo, traumas e estilo de vida podem impactar a saúde mental, tornando essencial o desenvolvimento de estratégias para preservá-la. Estratégias são ações que adotamos de forma mais consistente no longo prazo.
No final das contas, saúde mental é o resultado que colhemos quando adotamos comportamentos e hábitos que promovem o nosso bem-estar. Requer dedicação e esforço intencional. Funciona como um exercício físico, precisamos adotar comportamentos e hábitos diários que nos ajudam a cultivar esse estado.
Massa, Aline, se conquistar fama e fortuna e nutrir as minhas necessidades básicas não garantem felicidade, agora me diz: O que tenho que fazer para promover o meu bem-estar e assim nutrir e preservar a minha saúde mental?
Como melhorar o meu bem-estar integral e, assim, a minha saúde mental?
Com base na minha experiência e nos estudos que acompanho sobre bem-estar no campo da Psicologia Positiva, vou compartilhar algumas práticas que contribuem para você promover o seu bem-estar integral e, assim, vivenciar mais saúde mental.
Claro que cada pessoa é muito singular e algo pode fazer mais sentido para uma do que para a outra.
Minha sugestão sempre é, teste todas as práticas e identifique se realmente geram algum impacto positivo em você. Caso não, está tudo bem descartar a prática. Mas conceda a si mesma a oportunidade de tentar.
Dito isso, vamos às práticas!
- Desenvolva gestão emocional:
Gerenciamento emocional pode ser definido como a capacidade de reconhecer nossas emoções e sentimentos (autoconsciência) e regulá-los (autorregulação). Fundamentalmente, a autoconsciência e autorregulação nos tornam menos reativos e suscetíveis à adotar comportamentos automáticos e irracionais, pois estimulam a reflexão antes da ação.
Também nos permitem processar em vez de reprimir ou ficarmos apegadas a experiências difíceis. Desenvolver a gestão emocional é essencial para a nossa saúde mental.
- Torne-se responsável pelo significado emocional do que acontece com você, diariamente:
Ao nos tornarmos mais autoconscientes sobre as nossas emoções e sentimentos, conseguimos perceber qual o impacto que os acontecimentos (que estão fora do nosso controle) exercem sobre nós. Assim, é possível decidir qual o significado emocional será concedido a ele
Por exemplo, uma demissão ou a perda de um cliente importante pode paralisar você ou se tornar uma oportunidade de crescimento. Ser capaz de ampliar a perspectiva diante das mais diversas situações também nos ajuda a lidar com adversidades de forma mais saudável e nos torna mais resilientes.
- Conecte-se às pessoas:
De acordo com o neurocientista Matthew Lieberman, o anseio de nos conectarmos deveria estar na base da pirâmide de Maslow. Antes de necessidades básicas como comida e segurança.
Sua afirmação baseia-se na percepção de que, como seres sociais e mamíferos, para ter nossas necessidades básicas atendidas primeiro precisamos nos conectar a um cuidador; alguém que nos forneça alimento nos primeiros anos.
Além disso, um dos mais longos estudos sobre a vida adulta e a felicidade realizado em Harvard, verificou que relacionamentos saudáveis contribuem mais para o nosso nível de satisfação com a vida do que dinheiro e fama.
Pessoas mais conectadas à família, aos amigos e à comunidade são mais felizes, mais saudáveis e vivem mais do que pessoas menos conectadas. O sentimento de desconexão (solidão), causa diversos problemas para a nossa saúde e prejudica o desempenho no trabalho.
- Escreva diários:
Acredito que criei o meu primeiro diário aos 9 anos. Na infância, utilizava diários para escrever sobre o meu dia. Entre a pré-adolescência e a adolescência deixei de relatar a rotina para registrar fatos importantes tanto pessoais quanto do noticiário. Isso mesmo. Foi aí que passei a nomeá-los “Diários de Época”.
Mais tarde perdi o hábito de escrever diários de forma consistente. Recorria a eles apenas para desabafar sobre conflitos internos. Foi revisitando alguns desses registros que descobri o quanto escrever foi (e permanece) um processo terapêutico para mim, e que é validado por pesquisas científicas. Com essa tomada de consciência comecei a escrever terapeuticamente de forma intencional. Você pode adotar dois métodos de escrita terapêutica:
1) Escreva de forma livre. Quando não saber a origem do seu mal estar, escreva de forma aleatória. Isso ajuda a ter mais clareza, especialmente se primeiro você escrever em meio a emoção e, depois de algum tempo, leir e ediitar com a razão.
2) Escreva cartas. Escrever uma carta é uma técnica de processamento emocional eficaz para perdoar os outros e a si mesma. Caso não saiba, o perdão independe da atitude do outro. Perdoe ainda que não tenha recebido um pedido de desculpa formal, nem queira ter contato ou convivência com a pessoa. Como diz um trecho da música Ciranda, de Dois é Par: “Meu amor não se esqueça, o perdão é remédio para a sua cabeça”.
- Desenvolva um estado de contentamento:
Para mim contentamento tem a ver com a ideia de conviver bem com o que temos aqui e agora.
No geral, as pessoas se dividem entre saudosistas (passado) e futuristas (gente que só está fisicamente aqui, mas a cabeça vive no futuro, no ainda não conquistado).
Ambos os casos são muito prejudiciais para a saúde mental, criam uma sensação de insatisfação e estão intimamente conectados à depressão e ansiedade.
Como a gente gera contentamento?
Comemorando as pequenas vitórias e vivendo a jornada, por meio da prática da gratidão e do exercício do estado de presença. Já falei sobre ambas aqui, e continuarei falando porque são fundamentais para aumentar o nosso bem-estar e nível de satisfação com a vida.
- Gerencie o estresse:
Diariamente nos deparamos com inúmeros gatilhos de estresse negativo. Talvez o seu sonho seja identificá-los e eliminá-los da sua vida… A questão é que dificilmente conseguimos eliminar todos. Precisamos conviver com alguns. Por isso, em vez de eliminá-los, aprenda a identificá-los e gerenciá-los.
- Acredite em si mesma:
Acreditar é essencial em tudo que queremos empreender na vida, seja aprender um novo idioma, buscar uma nova oportunidade de trabalho, iniciar um relacionamento amoroso, liderar um projeto, concluir uma capacitação etc.
Além de acreditar no que se busca, é preciso sim, acreditar também na nossa capacidade de realização. Para exercitar a nossa autoconfiança é preciso desenvolver um diálogo interno positivo, focar em desenvolver habilidades e em cada degrau da escada daquilo que desejamos realizar.
A cada degrau que avançamos com um fluxo de pensamento saudável e desenvolvendo novas habilidades, fortalecemos a nossa autoconfiança.
- Encontre um senso de propósito na vida:
Sei, dá até um frio na barriga ao escutar o termo “propósito”, afinal, todo mundo tem um menos você. Calma, não precisa entrar em pânico
Curto trabalhar com a ideia de que propósito pode ser entendido como algo que dá sentido à nossa vida e que pode gerar um impacto positivo para além de nós mesmos.
Logo, propósito não precisa ser algo transcendental. Conceder melhores condições de vida para a sua família pode dar sentido à sua vida. É isso que vai orientar e dar um gás às suas ações.
Quando concedemos um significado à vida, criamos uma fonte de motivação que vai nos manter comprometidos com as nossas atividades cotidianas e nos fortalecer diante das adversidades.
Agora, se você tiver muita dificuldade em definir um propósito, foca no seu autodesenvolvimento. Apenas o fato de se tornar um ser humano melhor para si mesma, como enfatizo aqui: já gera um impacto mais que positivo nos outros e no mundo 🙂
- Expresse sentimentos e necessidades de forma autêntica e compassiva:
O reconhecimento, validação e a comunicação transparente dos nossos sentimentos e necessidades são essenciais no processamento emocional e cultivo de relacionamentos saudáveis.
Quando nos comunicamos de forma transparente evitamos brigas desnecessárias e o acúmulo de questões que apenas intoxicam silenciosamente os nossos relacionamentos e desempenho no dia a dia.
Aplicar a técnica da Comunicação Não-Violenta pode nos ajudar a sermos mais transparentes e assertivos nas nossas interações sociais seja em casa, na rua e no trabalho.
- Adote micro-hábitos e rotinas de autocuidado:
Se você, assim como eu é apaixonada pelo que faz e já tem um senso de propósito aguçado, possivelmente se diverte trabalhando ou nem enxerga o trabalho como trabalho, sim como parte da sua identidade.
Mas preciso contar para você que trabalho, por mais prazeroso e alinhado com os nossos valores… não é lazer. E apenas trabalhar não é suficiente para nutrir o seu bem-estar. Então não use a justificativa de “amar o que faz” para negligenciar os cuidados consigo.
Trabalhar exige certo esforço, configuração mental e emocional diferentes dos proporcionados quando fazemos atividades lúdicas apenas por diversão ou que nutrem outras necessidades emocionais, físicas, mentais, espirituais e sociais.
Reserve algum tempo na agenda para ficar ao lado de alguém que você curte a companhia. Saia um pouco para bater um papo. Passeie com o seu cachorro. Conheça um lugar novo. Não importa se você vai viajar para Dubai ou tomar um sorvete com um amigo na esquina… Crie o hábito de desconectar-se mental e emocionalmente do trabalho para aproveitar as sensações, emoções e sentimentos que uma atividade lúdica tem potencial de proporcionar, como um hobby. Busque se alimentar de forma nutritiva e faça as suas refeições com presença, exercite-se, adote rituais que nutrem a sua espiritualidade…
Aposto que você vai trabalhar muito mais energizada e, inclusive, com mais ideias criativas.
O segredo para adotar micro-hábitos e rotinas de autocuidado é torná-los também uma prioridade, não deixar para fazer isso apenas nas férias ou quando “sobra tempo”. Afinal, sobra tempo para você? Para mim, ainda não. Então micro-hábitos e rotinas de autocuidado são dever de casa para o dia a dia.
- Substitua mantras como hard work e no pain no gain por smart work, abundância e sincronicidade:
Vivemos sob uma pressão constante pela alta performance – esse termo pode ser confundido com trabalho duro constante, negligenciando descanso, alimentação, sono, exercício físico, tempo de qualidade etc.
Sim, confundido, porque alta performance não tem nada a ver com isso e essa interpretação equivocada pode causar muita ansiedade.
Ao contrário do que o “universo empresarial” pode nos fez acreditar, trabalhar duro (por horas a fio) e manter uma péssima qualidade de vida não deve ser motivo de orgulho para ninguém. Como este texto foi escrito originalmente em 2019, antes da pandemia, ainda bem que esse cenário tem mudado de lá pra cá.
Pois produtivo mesmo é trabalhar de forma inteligente. Conseguir o melhor resultado com dedicação bem aplicada enquanto nutrimos o nosso bem-estar. Uma ideia intimamente conectada aos conceitos de sincronicidade e abundância.
Sincronicidade tem a ver com entrar em sintonia com o fluxo da vida. Sabe quando a gente quer muito algo, mas parece que há um bloqueio e as coisas não fluem?
Pode ser um sinal de que esse não é o melhor jeito de fazer as coisas. De que não estamos adotando a melhor estratégia. Não estamos em sintonia com o fluxo da vida. Precisamos soltar o controle, testar formas alternativas de fazer algo etc.
Já abundância não tem a ver apenas com dinheiro. Envolve todas as dimensões da nossa vida. Afinal, dá pra imaginar viver em abundância apenas com dinheiro e sem saúde mental? Concorda comigo que isso não é ser abundante, certo? O caso do Whindersson dentre tantos outros reforçam isso.
- Seja uma eterna aprendiz:
Talvez você não curta estudar dentro do modelo tradicional de ensino, mas tenho certeza que você gosta de aprender algo que interessa você, nem que seja informalmente por meio de uma conversa na mesa do bar.
Descubra quais são seus interesses e aprenda constantemente mais sobre eles. Leia livros, faça cursos, participe de eventos ou converse com pessoas com interesses parecidos.
Assim você se tornará uma lifelong learner. Um eterno aprendedor.
Essa postura nos ajuda a desenvolver autonomia, aumenta a nossa capacidade de aprendizagem e de adaptação, mantém a mente ativa e também adiciona mais um senso de propósito à nossa vida. Além, claro, de nos tornar mais interessantes pois nos concede repertório.
Cuidar do seu bem-estar deve estar na sua lista de prioridades
Ao adotar no dia a dia comportamentos e hábitos que promovem o seu bem-estar, você permanece se dedicando aos seus objetivos sem negligenciar a sua saúde mental e bem-estar emocional.
Passa a vivenciar mais felicidade genuína e quem sabe, pode”chegar lá” ( dar os check nos itens da sua lista de objetivos) inteira, com muita energia para aproveitar (de verdade) as suas conquistas extrínsecas.
Agora, se você já sofre com um quadro de ansiedade ou depressão, como no caso do Whindersson, busque ajuda profissional. Combinado?
E aí, qual comportamento e hábito você vai adotar primeiro para promover o seu bem-estar no dia a dia?
Se você precisa de orientação para adotar comportamentos e hábitos que promovem o seu bem-estar, inscreva-se na LEVE.
Faça parte de uma comunidade de mulheres que estão adotando no dia a dia comportamentos e hábitos que promovem o bem-estar!